segunda-feira, janeiro 19, 2009

Vampiros


Twilight, mais um filme chulé sobre vampiros.
Eu tenho uma doença hereditária: quando começo a ver um filme, por mais que ele seja uma porcaria, tenho que ver até o fim. Claro, existem algumas exceções. Quando o dramalhão é tanto que você já tem vontade de cortar os pulsos no começo, eu saio da sala. Quando eu tenho um compromisso mais importante no qual eu não posso chegar atrasado, ou melhor, no qual as conseqüências do atraso são mínimas ou - em casos de filmes muito bons, reparáveis, também posso pensar na possibilidade de sair da sala (não sem antes me atrasar um pouquinho...). A última exceção é quando eu durmo. Eu fico na sala, mas saio do filme.
Pois voltando aos vampiros, eu acho filme de vampiro uma sacanagem. Fico até feliz quando o filme é vagabundo porque assim o efeito da sacanagem é consideravelmente reduzido. Os caras são mais bonitos, inteligentes, apaixonantemente sarcásticos e têm toda a eternidade para estudar peças de piano, ler todos os livros, juntar bastante dinheiro e viver em castelos cheios de estantes que ficam constantemente vazios, pois na maior parte do tempo eles estão viajando. Chato, né? Pra piorar, nos filmes mais recentes eles resolveram acabar com o mito da aversão à luz do dia e fizeram, como que para compensar, os vampiros parar de dormir. P-L-E-A-S-E!! Como se dormir já não fosse a maior perda de tempo dessa vida. Quem teve a brilhante idéia de trocar uma desvantagem pequena por uma vantagem absurda?
Aí tem a Anne Rice que resolve da uma trégua para nós, humanos, e retrata os vampiros como umas criaturas muito "blazées" e entediadas de todo esse tempo que eles têm para passar no mundo. Não caio nessa, acho tudo uma estratégia mequetrefe para a gente pensar que existe um lado ruim da história.
Porque, vamos ser sinceros. Quem nunca reclama da falta de tempo? Ou da falta daqueles poderes especiais tipo ler a mente alheia, prever o futuro, escutar bem longe...
Parece tudo uma grande ironia pois se infelizmente o consenso geral nega a existência dos vampiros, na realidade eles estão por tudo, mas encarnados de uma forma ainda mais chata que a Anne Rice jamais poderia imaginar. São aqueles sangue-sugas de energia alheia, pessimistas de plantão que conseguem drenar o bom humor com um único gesto. Desses, sinceramente, eu não tenho inveja.
Mas voltemos aos vampiros dos quais eu tenho inveja. Esses vampiros jamais entrariam nesta sinuca de bico em que eu me meti escrevendo sobre eles. Afinal, o que diabos dizer agora? Que eu queria ser um vampiro? Opa, tanto quanto eu queria ser Harry Potter! Claro que eu não queria ter vivido com meus tios durante minha infância, mas eu certamente acharia muito prático resolver meus problemas com uns flip-flops de varinha.
Um dia meu professor de técnicas de programação colocou a seguinte citação numa prova: "Nunca ore suplicando cargas mais leves, e sim ombros mais fortes". Grande filosofia de livro de auto-ajuda, na minha opinião. De um tal Philips Brooks, famoso padre americano. Se duvidar meu professor tirou a citação de algum livro de programação de outro americano e nunca soube quem foi o tal Brooks, mas isso não vem ao caso. A questão é que os vampiros têm os ombros mais fortes, com os quais praticamente toda carga é leve: vida fácil sem peso na consciência.
Eu proponho uma outra solução. Não ore, pense nos vampiros, fique puto, lembre-se que eles não existem, erga a cabeça e faça o que diabos tiver que ser feito para resolver seus problemas.
Eu quero que a vida, cada vez mais difícil, seja sempre fácil. Quero, ué. Querer não dói, nem em mim nem em ninguém. Quero ser vampiro, Harry Potter, Wolverine, Superman. Quero continuar esse ritual de pensar neles, sonhar com o "e se?", sorrir e saber com tranqüilidade que os problemas contêm em si a própria solução (perdoem os pleonasmos). Funciona sempre e quando parece falhar é porque algo ainda vai acontecer.
Voilà, acho que são esses os meus ombros fortes. Não há carga que eu não agüente. Mas continuo achando filme de vampiro uma sacanagem.

Termino o post com o verdadeiro texto de Philips Brooks, que morreu solteiro (ela era da igreja anglicana...) em 23 de janeiro de 1893 e contribuiu intelectualmente ao processo de abolição da escravatura (que fortes ombros) nos Estados Unidos.
"O, do not pray for easy lives. Pray to be stronger men! Do not pray for tasks equal to your powers. Pray for powers equal to your tasks! Then the doing of your work shall be no miracle. But you shall be a miracle. Every day you shall wonder at yourself, at the richness of life which has come to you by the grace of God."

Santa wikipedia!

Um comentário:

Silvestre Gavinha disse...

Ontem não conseguimos voltar da chácara antes da meia-noite.
Hoje acordei com o pescoço duro e o telefone tocando para a Ana Lucia me xingar, que novamente não deixei as requisições de exames para ela. Ela ficou 12h em jejum e voltou para casa para comer e ir trabalhar sem fazer os exames. Foi a terceira vez que esqueci de deixar a coisa para ela.
Isso é sacanagem, e a prova que vampiros existem. No meu caso e nessa história em especial, sinto que tem um vampiro dentro de mim que simplesmente rouba a lembraça da coisa a ser feita. TRÊS VEZES. Só espero que ele não se chame Elzheimer. Aí a sacanagem é muito grande. Se considerar que pela minha história genética, ou melhor pela história das mulheres na família eu devo viver quase até a eternidade. Sim por que se pensar que já tô assim esquecida, agora, 88/90 anos nem vou saber de que espécie sou.
Entrei para dizer que tinha gostado do texto de ontem. E deparei-me com este de que gostei mais ainda.
Persevere. Está muito bom.
Certeza que logo terás seguidores.
Não vai ser difícil encontrar quem concorde com tuas idéias e goste do jeito que as exprimes.
Sem sacanagem. Tá bom mesmo.
Um beijo