sábado, janeiro 17, 2009

Aquela palavra


Gostaria de poder começar a escrever sem aquela sensação de ter perdido todas as minhas idéias em um curto circuito. Minha capacidade criativa parece funcionar apenas em ocasiões na quais não há a menor possibilidade de registrar as idéias. As pobres acabam sendo desperdiçadas, esvanecendo-se sem jamais fazer parte de qualquer publicação. Talvez seja esse meu destino como escritor: enquanto eu insistir na idéia de escrever estarei amaldiçoado, destinado a discutir em cada conto, romance ou post, essa inevitável falta de criatividade que me assalta no momento mais indevido.
O problema é a tal da linguagem. A gente é muito habituado a falar de um jeito e escrever de outro, a bloquear na hora de transformar o discurso verbal em texto e querer utilizar um vocabulário que não é o nosso. Eu pessoalmente gostaria muito que meu vocabulário fosse assim tão bom quanto o vocabulário com o qual eu imagino meus textos naqueles momentos em que não posso escrevê-los. Se duvidar é como aquelas histórias que minha mãe me conta, de quando ela sonha em alemão.
Minha mãe tem mania de me dizer que na noite anterior sonhou um sonho todinho em alemão, no qual ela falava em alemão, interagia com outras pessoas falando alemão... assim, tudo em alemão. Eu sempre imagino o sonho dela em preto e branco, com pessoas vestidas tipicamente como aqueles alemães que a gente vê em festa folclórica. Sei lá por que. Enfim, nos sonhos ela tem todas essas conversas em alemão e, quando ela acorda, ela lembra de tudo, só que como ela não fala picas de alemão, fica faltando a tecla sap e ela não entende nada. Daí você fica imaginando a bizarrice da pessoa que além de lembrar do sonho inteiro, ao ponto de poder revê-lo como um filminho ao acordar, tem a capacidade de te dizer assim "ah, sei lá, não entendo nada", quando você pergunta pra ela o que diziam no sonho.
Pois então, eu quando estou andando pela rua, tenho esses "sonhos". Escrevo livros e livros, com histórias interessantíssimas e aquela linguagem que simplesmente flui. As palavras vem com uma facilidade enorme, brotam aqueles termos que quando a gente lê fica se perguntando como diabos o autor foi desenterrar a palavra exata que se encaixa em tal contexto... é como se escrever fosse tão fácil quanto falar. Aliás, não, tão fácil quanto PENSAR, porque pode crer que quando você quer contar a mesma história, fatalmente vai rolar o mesmo tilt e no fim das contas, por querer utilizar aquela mesma linguagem que você "sentiu" na imaginação, vai ser aquele bordel que nem você mesmo vai entender.
E é por isso que eu resolvi escrever por aqui de uma forma o mais semelhante possível daquela que eu falo, pois fala e escrita compartilham o mesmo "nível" enquanto o pensamento vai sozinho lá longe. Porque se eu quiser contar alguma coisa, opinar sobre outra, avacalhar com uma terceira ou seja lá qual for a minha intenção em publicar, tem que ser jogo rápido pra eu não deixar escapar a idéia.
Tinha esse advogado com quem eu trabalhei que escreveu um livro de direito tributário (sobre a multa moratória, mais foda foi não dormir no primeiro dia de trabalho enquanto lia) no qual ele se orgulhava de não ter usado a palavra "que". Eu sinceramente achei do caralho, todas as coisas se encaixando direitinho sem um mísero "que" pra conectar as idéias. Aí eu fui tentar, em uns rascunhos do que seria esse post, fazer algo parecido. Não é tão difícil... e realmente fica muito mais bonito, culto, bem escrito e todas essas coisas que as professoras de português esperam que sejam os seus textos. Mas não convence, sabe?? Não é MEU. Cada vez que, para não usar o "que", você tenta escrever a frase de outro jeito, acaba tendo que escarafunchar as profundezas do oceano em busca "daquela" palavra, aquela que vai te tirar da enrascada em que você resolveu se meter.
Prefiro começar simples. Não é a toa que por mania de grandeza eu passei tanto tempo frustrado com o "onde eu estava", pois era muito longe do "pra onde eu queria ir". E foi só quando eu resolvi aproveitar o "onde estou" que os meus passos tornaram-se contínuos o suficiente para que seja possível ir a algum lugar. Um lugar geralmente diferente daquele em que eu me imaginava antes de começar a caminhada.
Mas essas metáforas estão muito baratinhas e é melhor parar por aqui. Dois anos atrás eu fiz a mesma merda. Comecei com um post no qual a idéia principal era treinar a escrita para eventualmente escrever algo que preste.
Foi meu único post.
Agora se presta ou não eu já não ligo mais. Quero é que esteja escrito.

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